Ensinam-nos nos cursos de Tradução que a
missão do Tradutor é passar desapercebido. Sobretudo na Tradução Literária.
Embora alguns assumam que a Tradução
Literária é uma empreitada de recriação, é comummente aceite que uma tradução
será tanto melhor quanto menores forem os vestígios do Tradutor encontrados. Os
tradutores-leitores são exímios em encontrar esses vestígios, preferindo muitas
vezes ler a obra na língua original. Mas não é desses leitores a que me estava
a referir…
Do ponto de vista do Tradutor, é então
um sinal positivo quando este passa por invisível.
E do ponto de vista do Autor?
Partilho convosco uma experiência
caricata que tive recentemente. Depois de ter lido um best-seller premiado de 700 páginas, li uma série de críticas a
este relativas na Internet. Embora tenha lido a obra na língua original, acabei
por ler também resenhas de críticos portugueses. Qual não é o meu espanto
quando numa das críticas – por sinal, de um conceituado blogger – me deparo com várias referências às opções terminológicas
e idiomáticas!
Interpelada por uma sensação de “eu não
li nada disto”, apressei-me a comparar com o original e depressa concluí que a
tradução portuguesa é duvidosa ou apressada…
Suspeito que o Autor não ficaria muito
satisfeito com essa crítica, tanto mais que, na verdade, os pontos negros são
da autoria do Tradutor e não do Autor.
Passar desapercebido, está bem, mas –
sobretudo no que se refere à crítica literária – convém distinguir o trabalho
de Tradutor e Autor, não?
Ana Bela Cabral
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