Vivemos
uma era de acelerações tecnológicas que nos obrigaram a adaptar as nossas
competências de leitura e de assimilação da informação. Damos (quase)
inconscientemente prioridade ao que já vem digerido, ao esquematizado, ao
conciso. Talvez essa seja uma boa razão para repensarmos também a forma como
expressamos as nossas opiniões, seja na imprensa, seja na blogosfera.
Não
raras vezes, lemos supostos artigos de opinião que de artigos de opinião só têm
o nome. Os pontos de vista carecem de clareza e concisão, a estrutura é
inarticulada, o objetivo é indefinido e, linguisticamente falando, a forma
afasta-se do rigor desejado.
Ficam
aqui algumas dicas, muito básicas e de fácil aplicação:
1. À semelhança de
qualquer texto expositivo, o artigo de opinião deverá ter introdução, desenvolvimento
e conclusão. Se este fio condutor for seguido, o texto ganha
automaticamente em clareza.
2. O parágrafo
introdutório deve ser curto, deve expor brevemente a opinião do
autor e captar a atenção do leitor. Pode começar por uma citação,
uma pergunta retórica ou interpelativa ou por uma afirmação
inesperada.
3. Os parágrafos
correspondentes ao desenvolvimento devem apresentar claramente os pontos
de vista do autor, com as correspondentes fundamentações/justificações.
Sempre que possível (é desejável), reservar pelo menos um parágrafo às opiniões
contrárias, ao reverso da medalha, ao contraste. Algumas técnicas de
escrita a realçar nesta fase passam pela repetição de palavras-chave e o
uso de conetores e/ou organizadores do discurso. Esses conetores
e/ou organizadores podem dividir-se em diferentes categorias que ajudam a
estruturar a nossa exposição. Alguns exemplos:
a)
Introduzir um ponto de vista: em primeiro lugar, para começar,
primeiramente, por um lado, etc.;
b)
Dar uma opinião: na minha opinião, do meu ponto de vista, a meu ver, em
nosso entender, etc.;
c)
Adicionar elementos: e, além disso, não só... mas também, depois,
finalmente, seguidamente, em primeiro lugar, em seguida, por um lado... por
outro, adicionalmente, ainda, do mesmo modo, pela mesma razão, igualmente,
também, de novo, etc.;
d)
Exemplificar: pois, porque, porquanto, por causa de, uma vez que,
especificamente, nomeadamente, isto é, ou seja, quer dizer, por exemplo, em
particular, como se pode ver, é o caso de, é o que se passa com, etc.;
e)
Apresentar alternativas / opor / contrariar: porém, contrariamente, em
vez de, pelo contrário, por oposição, ainda assim, mesmo assim, apesar de,
contudo, no entanto, por outro lado, etc.;
4. O parágrafo conclusivo deve reiterar a opinião
do autor tendo em consideração os argumentos discutidos nos parágrafos
anteriores. Também deve ser curto, como o introdutório, e num tom
equilibrado, humilde e autêntico. Neste parágrafo, também podem ser utilizados
conetores e/ou organizadores como: logo, pois, assim, por isso, por conseguinte,
portanto, enfim, em conclusão, concluindo, em suma, para terminar, em último
lugar, em síntese, finalizando, recapitulando, etc.
Finalmente,
mas não menos importante, seria desejável que a atual facilidade de publicação
das nossas opiniões não fosse sinónimo de falta de revisão ortográfica e
gramatical. Porque não dar o artigo a ler a uma boa meia-dúzia de leitores
voluntários, de olho clínico, outsiders
ou não ao tema? A diversidade é benéfica, pode enriquecer o nosso contributo e
vários olhos veem melhor do de apenas dois.
Ana Bela Cabral
Mestre em Comunicação
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