quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Artigos de opinião: breve guia

            Samuel Butler disse um dia: «O público compra opiniões do mesmo modo que compra a carne ou o leite, partindo do princípio de que custa menos fazer isso do que manter uma vaca. É verdade, mas é mais provável que o leite seja aguado.» Não poderia concordar mais com esta ideia, sobretudo, numa época em que é tão fácil encontrarmos e apropriarmo-nos de opiniões alheias.

            Vivemos uma era de acelerações tecnológicas que nos obrigaram a adaptar as nossas competências de leitura e de assimilação da informação. Damos (quase) inconscientemente prioridade ao que já vem digerido, ao esquematizado, ao conciso. Talvez essa seja uma boa razão para repensarmos também a forma como expressamos as nossas opiniões, seja na imprensa, seja na blogosfera.

            Não raras vezes, lemos supostos artigos de opinião que de artigos de opinião só têm o nome. Os pontos de vista carecem de clareza e concisão, a estrutura é inarticulada, o objetivo é indefinido e, linguisticamente falando, a forma afasta-se do rigor desejado.

            Ficam aqui algumas dicas, muito básicas e de fácil aplicação:

1. À semelhança de qualquer texto expositivo, o artigo de opinião deverá ter introdução, desenvolvimento e conclusão. Se este fio condutor for seguido, o texto ganha automaticamente em clareza.

2. O parágrafo introdutório deve ser curto, deve expor brevemente a opinião do autor e captar a atenção do leitor. Pode começar por uma citação, uma pergunta retórica ou interpelativa ou por uma afirmação inesperada.

3. Os parágrafos correspondentes ao desenvolvimento devem apresentar claramente os pontos de vista do autor, com as correspondentes fundamentações/justificações. Sempre que possível (é desejável), reservar pelo menos um parágrafo às opiniões contrárias, ao reverso da medalha, ao contraste. Algumas técnicas de escrita a realçar nesta fase passam pela repetição de palavras-chave e o uso de conetores e/ou organizadores do discurso. Esses conetores e/ou organizadores podem dividir-se em diferentes categorias que ajudam a estruturar a nossa exposição. Alguns exemplos:

           a) Introduzir um ponto de vista: em primeiro lugar, para começar, primeiramente, por um lado, etc.;

           b) Dar uma opinião: na minha opinião, do meu ponto de vista, a meu ver, em nosso entender, etc.;

           c) Adicionar elementos: e, além disso, não só... mas também, depois, finalmente, seguidamente, em primeiro lugar, em seguida, por um lado... por outro, adicionalmente, ainda, do mesmo modo, pela mesma razão, igualmente, também, de novo, etc.;

           d) Exemplificar: pois, porque, porquanto, por causa de, uma vez que, especificamente, nomeadamente, isto é, ou seja, quer dizer, por exemplo, em particular, como se pode ver, é o caso de, é o que se passa com, etc.;

           e) Apresentar alternativas / opor / contrariar: porém, contrariamente, em vez de, pelo contrário, por oposição, ainda assim, mesmo assim, apesar de, contudo, no entanto, por outro lado, etc.;

4. O parágrafo conclusivo deve reiterar a opinião do autor tendo em consideração os argumentos discutidos nos parágrafos anteriores. Também deve ser curto, como o introdutório, e num tom equilibrado, humilde e autêntico. Neste parágrafo, também podem ser utilizados conetores e/ou organizadores como: logo, pois, assim, por isso, por conseguinte, portanto, enfim, em conclusão, concluindo, em suma, para terminar, em último lugar, em síntese, finalizando, recapitulando, etc.

            Finalmente, mas não menos importante, seria desejável que a atual facilidade de publicação das nossas opiniões não fosse sinónimo de falta de revisão ortográfica e gramatical. Porque não dar o artigo a ler a uma boa meia-dúzia de leitores voluntários, de olho clínico, outsiders ou não ao tema? A diversidade é benéfica, pode enriquecer o nosso contributo e vários olhos veem melhor do de apenas dois.
Ana Bela Cabral
Mestre em Comunicação



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